Naquela noite não conseguiu jantar, trancou-se no quarto para esperar passar a tremedeira. Só conseguia pensar que ele estava ali. Aquilo que mais temia acabara de acontecer. Ella pecara, como tantos, pela curiosidade que não achava ser excessiva. Tudo começou com sua atração pela área do cais do porto da cidade, então numa noite em que saiu com os amigos para a balada acabou indo parar lá. No início da festa disse que não estava se sentindo bem e pediu a Victor que a levasse para pegar um taxi, mesmo achando arriscado, ele concordou com a condição de que ligasse quando chegasse em casa. E assim Ella fez ao chegar na área portuária. Ficou perambulando entre os armazéns vazios, destinados em outra época, ao estoque de produtos vindos de outras partes do mundo. O porto fora desativado e aquele lugar estava quase abandonado. Resolveu seguir alguém que passou indo em direção a um bar que ocupava uma pequena porta num dos armazéns. Era um homem. Caminhava rápido, o seu jeito lembrou-lhe um bicho roedor, parecia um esquilo. Não percebeu sua presença e tão pouco parecia interessar-se por qualquer coisa alheia a ele. Ella queria parecer invisível ali, então vestiu-se a rigor, com o seu velho casacão preto, calças cargo e os coturnos para combinar. Ao entrar no bar, levou um susto, havia muita gente da sua idade por lá e usavam o mesmo uniforme.
O que dizer dessas pessoas que sentem que não se encaixam nas ações cotidianas? Não conseguem sentir da mesma forma aquilo que os outros sentem em relação a diversão e visão de mundo... São extraterrestres, não são vistos como tal, mas essa sensação lhes habita. Conseguem de forma mimética fazer parte, muitas vezes...
Parabéns. Obrigado por nos brindar com literatura de qualidade (coisa tão rara).
ResponderExcluirVisite nosso blog. poderemos trocar algumas figurinhas (letras).
Abraços literários.
Ricardo Porto.
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