Ella chegou cedo na noite da exposição, porque tinha hora
para ir embora. Victor a esperava noutra festa. Só aceitou dar cobertura para
a sua aventura naquelas condições: encontrá-lo em outro lugar e voltar para
casa em sua companhia. Parecia um irmão mais velho. Soava estranho para quem
era filha única. Um dos armazéns foi preparado para a mostra dos quadros.
Pendurados em paredes com a tinta descascando formavam um painel. A luz que os
iluminava era fraca, amarelada, contrastava com as paisagens pintadas nas
telas de moldura de madeira entalhada. As pinceladas soltas pareciam ter sido
feitas por alguém que tinha pressa e não queria perder os movimentos da cena
retratada. Ella não sabia de que época eram aqueles quadros, mas pareciam
antigos, de artistas conhecidos do século XIX e não daquele bando de garotos.
Não aceitou a taça de vinho que Vicente lhe ofereceu para brindar com o grupo.
Ele não insistiu depois que falou que não bebia. Em pouco tempo o lugar lotou.
As pessoas eram mais velhas e pareciam entender de arte e ter dinheiro para
comprar. Despediu-se depois de uma hora e foi ao encontro de Victor, antes de
sair comentou com Vicente que estava indo a outra festa. Ele desculpou-se,
estava ocupado atendendo os convidados. Pediu que o homem esquilo a
acompanhasse até um ponto de taxi. Ele nada falou, enquanto andava olhava
rapidamente para todos os lados, só faltava roer uma noz tirada de um dos
bolsos do casaco surrado. Contou a Victor sobre os quadros, os temas
retratados a técnica usada. Ele falou que parecia ser imitação da obra dos
pintores impressionistas e pós impressionistas. Não era nada de mais, todo
artista tem aqueles nos quais se inspira. Ella pensou que os quadros mais
pareciam cópias de originais do que outra coisa e resolveu deixar mais aquele
dado para análise posterior. Quando se encaminhavam para a saída do clube,
Ella percebeu que alguém familiar andava na sua direção sorrindo, não
reconheceu o rapaz, vestido como qualquer outro da festa. Ficou em dúvida
durante alguns segundos até ele ficar bem próximo. Quando os abordou, Ella
intrigada, já havia reconhecido Vicente e apresentou-o a Victor que pareceu
simpatizar com ele e retribuiu o aperto de mão de forma calorosa, como um
velho conhecido. Não lembrava de ter dito para ele o endereço da balada. Como
foi que descobriu?
O que dizer dessas pessoas que sentem que não se encaixam nas ações cotidianas? Não conseguem sentir da mesma forma aquilo que os outros sentem em relação a diversão e visão de mundo... São extraterrestres, não são vistos como tal, mas essa sensação lhes habita. Conseguem de forma mimética fazer parte, muitas vezes...
Pô....beleza de avatar!!!!
ResponderExcluirbj