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Aparição II

Com esforço, deu um jeito de ir embora, seus pais cuidavam o horário que chegava em casa e era bem provável que Victor ligasse para o seu celular assim que chegasse da festa. Vicente disse que aceitaria suas desculpas se retornasse no sábado em que inaugurariam uma exposição dos quadros do pessoal do grupo - não comentara, mas o propósito daquele pessoal era a arte em todas as suas manifestações. - Não se constranja, todos os pais são iguais, os nossos também eram assim. Ella enquanto andava acompanhada por Vicente que levou-a até um ponto de taxi, pensava em qual seria o motivo dele ter usado o verbo no passado quando falou nos pais. Muitas vezes, ele parecia ser um homem bem mais velho. Antes que embarcasse no carro ele comentou que houve uma época que aquele lugar era movimentado, iluminado, com comércio intenso, bares elegantes na beira do estuário ou rio, como queira. Durante o rápido trajeto que fez até em casa Ella ficou matutando o que ele dissera: como poderia falar como se tivesse vivido há mais de meio século? Esse era o tempo de inatividade do porto.
Assim que entrou no quarto, o telefone tocou, fez voz de sono ao pronunciar o “alô” para que Victor acreditasse que havia acordado naquele momento. O amigo disse que parasse com aquela farsa barata – viu que havia descido de um carro não fazia cinco minutos. Ella admitiu a mentira e combinou que contaria as novidades no dia seguinte. E assim fez omitindo algumas partes, aquelas que estavam fazendo com que montasse um quebra cabeça. Convidou o amigo para a exposição de artes plásticas no cais do porto, mesmo sabendo que ele inventaria uma desculpa na hora para não ir. Ella percebeu certa desconfiança e contrariedade na expressão de Victor e achava que ele faria de tudo para impedi-la de comparecer ao evento. Ele era muito pragmático para entender aquela gente que parecia ser mais de outra época do que excêntrica.

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