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Bromas       Naquela manhã os meninos resolveram trancar as meninas dentro da sala de aula, para isso,  enviaram os nerds  à sala da coordenação de disciplina para pegar uma cópia da chave no armário.  Atraíram elas mostrando um vídeo no telefone de Cássio. Ele disse que dera uns amassos na Brenda, a menina mais popular da sala, atrás do prédio do laboratório de ciências. Quando todas estavam agrupadas para ver o vídeo falso, eles saíram e trancaram a porta.  Correram para fora da sala, carregando a sensação de vitória. Enquanto riam do que haviam aprontado, o estrondo tomou conta de todo o andar abaixo  e o fogo foi ocupando todos os cantos inflamáveis. Os meninos viraram urdidura no meio da destruição. As meninas, antes, entretidas procurando no telefone as imagens, correram  para a porta quando ouviram o barulho, não conseguiram abri-la. Foram para as janelas e viram o fogo escalando as paredes. Não tinham ideia de que o prédio estava quase todo destruído, ficaram só uma sala n
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Bolha de Calor

              A temperatura estava muito alta para a estação, primavera tórrida, sensação térmica de quarenta e sete graus. A bolha de calor se formara devido ao fortalecimento do ar seco na atmosfera, caprichos do El niño. A poluição exigia esforço para respirar. Os olhos lacrimejavam e o nariz ardia. A população da grande cidade já sofria as conseqüências do número excessivo de veículos nas ruas. A mobilidade era o problema e o rodízio dos carros nas avenidas a solução provisória.        A   calamidade era iminente, faltava água, há meses não chovia.        Até para aqueles que viviam nos subterrâneos da cidade a seca estava afetando suas vidas e seu habitat já sofria modificações. A secura já invadia os cantos escondidos pela escuridão. Quando saiam à noite para caçar, o bafo quente aderia   suas peles sensíveis e a fumaça no ar, tornava o cenário ideal para aqueles que necessitam de discrição, mas com o calor diminuíram o tempo dedicado a busca de alimentos. Percorria

Apêndice

                                                                                                                                             O que dizer dessas pessoas que sentem que não se encaixam nas ações cotidianas? Não conseguem sentir da mesma forma aquilo que os outros sentem em relação a diversão e visão de mundo...        São extraterrestres, não são vistos como tal, mas essa sensação lhes habita. Conseguem de forma mimética fazer parte, muitas vezes, nem são descobertos, só se declararem ou tiverem qualquer crise existencial grave.      Transitam pelos shoppings, parques, supermercados e clínicas psiquiátricas( porque alguém constatou que só esses especialistas conseguiriam tratá-los).        Admiram a praticidade de algumas pessoas que tomam decisões rápidas, assim como arrumam malas de viagens eficazes, o necessário e ainda conseguem variar trajes. Não têm   dentro de si aquele buraco grande e sem fundo, cheio de coisas desconhecidas que provocam a sensação de des

Ratoeiras

                                                                                                                                                                                                                           Malaquias desce apressado a alameda. Está decidido, não irá repetir mais o erro cometido em tantos anos. Pela última vez informará a Joel sua resolução. Este dirá tratar-se de uma situação sem saída, mas não o impedirá. Haviam perdido o controle das coisas, a desestruturação fazia parte do cotidiano.      Tudo começou com o aumento populacional, incentivado pelo mito da existência de muitas áreas desabitadas. Em poucos anos as fronteiras foram derrubadas e institui-se o estado de guerrilha. Nas cidades decadentes, os bandos urbanos disputavam espaços para praticar jogos de extermínio. Os donos dos antigos oligopólios e os ditadores das regras sociais construíram o último ônibus espacial. Zarparam nele. Os apenas influentes, feudalizaram-se em propriedades ca
A casa calada      Depois de um ano vivendo ali, a mulher percebera que havia sentimentos escondidos atrás da pintura das paredes. Os arranjos de rosas artificiais e o quadro com as begonhas murchas deixados pela outra mulher não foram suficientes para convencê-la da existência de tanto pesar amordaçado. Quando ela chorava sem saber o motivo achava que eram as suas agruras não identificadas.      Um dia soube que a casa sangrava de dor, que lamentava uma perda e tornava infelizes seus novos moradores. Viu o vermelho sangue borrando a tinta pastel da parede da sala e que as flores presentes no ambiente poderiam servir para um lindo arranjo fúnebre. Estavam mortas.       Restava saber quanto tempo os sobreviventes conseguiriam viver nela. O homem e a mulher sensitiva. Ela começara a conhecer a casa silenciosa, ali não havia estalidos noturnos. Não sabia o tipo de conexão que tinham, sentia o passado daquele lugar, as mágoas vividas pela outra, apertavam o seu peito. O medo lhe ac
Adoradores de túmulos         Eles adoravam artistas que se tornaram famosos por causa do seu talento e estilo de vida,   eram mitos mortos, foram enterrados em lugares e épocas diferentes, homens e mulheres. Os adoradores eram um grupo também misto no que se refere ao gênero, mas as idades eram próximas e tenras. Achavam que eram viajantes do passado que encontraram uma brecha no tempo que os trouxe para o futuro, eram nostálgicos, gostavam de roupas antigas e da época do romantismo literário. Não se consideravam góticos,mas gostavam de visitar cemitérios e   realizar saraus noturnos, como não podiam ir ao túmulo de cada ídolo, faziam suas homenagens em qualquer “campo santo” evocando personagens finadas. Cultuavam Álvares de Azevedo, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison e Amy Winehouse, não parecia haver critério na classificação, apenas seguiam suas emoções. Não elegeram Kurt Cobain, porque a votação não foi unânime, alguns acharam que faltou a ele um discurso coerente, um
Reveses      O mais velho apanhava e não reagia, usava os braços como escudo, o mais novo e mais forte batia sem demonstrar remorso. Os transeuntes paravam para olhar, os motoristas de táxi   faziam uma espécie de torcida organizada, se animavam e quase apostaram quando o mais velho pegou uma pedra para atirar no outro. Na rua estreita do centro da cidade, existiam garagens e terminais de ônibus. Os que passavam ficavam revoltados ao ver o mais velho apanhando, não imaginavam   o início daquela história.      Tudo começou na época em que Mirtes chegou na cidade em busca de emprego, deixara o filho pequeno na cidade do interior com a mãe e o irmão caçula. Veio com a recomendação feita num bilhete manuscrito pela dona da farmácia, enviado para a irmã que morava na cidade grande e precisava de uma doméstica. O endereço, anotado no mesmo papel da apresentação, amassado e úmido do suor na mão aflita. Ao descer na rodoviária sem saber para onde seguir teve a sorte de encontrar Oví