Foi o que perguntou assim que ficaram a sós, enquanto Victor aguardava a alguns passos de distância, próximo ao meio fio, o carro de seu pai que vinha buscá-los. O rapaz respondeu que não havia mistério algum, Blue escutou o endereço quando Ella instruiu o motorista de taxí.Realmente não havia mistério, a não ser o fato do homem esquilo, ser uma espécie de espião e ter como nome uma cor e não ter o nome de um bicho. De qualquer forma, não seria indiscreta o bastante para averiguar a origem do cognome do homem azul e isso não era relevante, como diria Victor. Estranhou o comportamento do amigo ao ser apresentado a Vicente, ele que no início pareceu tão desconfiado em relação àquele grupo. Era bem provável que não soubesse de quem se tratava. Resolveu deixar as coisas como estavam, talvez tudo fosse excesso de sua imaginação. Ella mudou de idéia quando Vicente começou a aparecer em todos os lugares em que estava. A segunda vez foi na saída da escola. Deixou que a acompanhasse até em casa. Uma outra vez no supermercado e assim passou a vê-lo todos os dias. Sentia-se vigiada, como se tivesse perdido a liberdade e ao mesmo tempo não conseguia recusar os convites que ele fazia. No dia em que foi no seu apartamento, num bairro pobre próximo a área portuária, soube que não tinha pais. Fora criado num orfanato. Os amigos também, alguns tinham sido criados por famílias que os adotaram, outros por instituições. O que os aproximara foi essa falta de referência materna e paterna verdadeira. Vicente lembrou da vez em que Ella falara dos pais e ele respondera que tiveram pais cuidadosos também. Talvez tivessem sido se suas histórias fossem diferentes. Ella ficou embaraçada, não sabia o que dizer nessas situações em que tragédias eram reveladas. Ficou quieta olhando para a parede sem pintura da sala do apartamento pequeno e quase sem mobília. Tudo parecia resolvido, havia certo constrangimento no ar, eles eram apenas jovens órfãos esquisitos. Até que Vicente começasse a rir e dissesse que era tudo mentira.
O que dizer dessas pessoas que sentem que não se encaixam nas ações cotidianas? Não conseguem sentir da mesma forma aquilo que os outros sentem em relação a diversão e visão de mundo... São extraterrestres, não são vistos como tal, mas essa sensação lhes habita. Conseguem de forma mimética fazer parte, muitas vezes...
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