Mesmo sendo um dia de semana, Ella decidiu ir ao bar do cais do porto, a noite se insinuava fria e a cena parecia repetir-se: o lugar quase deserto e o homem esquilo cruzando o seu caminho como se estivesse atrasado para um compromisso importante. Passou direto pela porta do bar seguindo em direção ao rio. Ella achou que o lugar ainda estava fechado e forçou a porta achando que não abriria. Ficou surpresa quando ela escancarou facilmente. Apesar da escuridão pôde ver que o balcão, as mesas e cadeiras haviam sumido. Nada mais do que fora um bar estava ali. O lugar abandonado cheirava a mofo e parecia estar fechado há muito tempo. Ella não acreditava, a porta era a mesma, pintada de preto, não podia estar enganada. Andou entre outros armazéns para ter certeza e não encontrou nenhuma porta como aquela. O lugar era aquele naquele acesso ao porto, os portões eram identificados com as letras do alfabeto e o seu era o A. Olhou na direção da orla do rio e viu Vicente conversando com o homem esquilo, estavam de costas para Ella e pareciam discutir. Vicente parecia repreender Blue. Não ouviram Ella se aproximar e falavam num idioma que não conhecia. Ficou encostada na parede atrás de uma coluna e viu quando o homem esquilo caminhou em direção a um beco escuro entre as construções, seguido por Vicente. Congelou quando não conseguiu mais ver os homens ou o vulto deles e sim dois seres planando no ar, tinham uma espécie de fosforescência e emitiam um som chiado, como uma interferência elétrica. Quase desmaiou e levou muito tempo para recobrar-se e ir embora.
A temperatura estava muito alta para a estação, primavera tórrida, sensação térmica de quarenta e sete graus. A bolha de calor se formara devido ao fortalecimento do ar seco na atmosfera, caprichos do El niño. A poluição exigia esforço para respirar. Os olhos lacrimejavam e o nariz ardia. A população da grande cidade já sofria as conseqüências do número excessivo de veículos nas ruas. A mobilidade era o problema e o rodízio dos carros nas avenidas a solução provisória. A calamidade era iminente, faltava água, há meses não chovia. Até para aqueles que viviam nos subterrâneos da cidade a seca estava afetando suas vidas e seu habitat já sofria modificações. A secura já invadia os cantos escondidos pela escuridão. Quando saiam à noite para caçar, o bafo quente aderia suas peles sensíveis e a fumaça no ar, tornava o cenário ideal para aqu...
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