Depois desse dia Ella nunca mais foi ao cais do porto. Não comentou o acontecido e até se recusava a pensar sobre aquilo que não conseguia entender. Vicente desapareceu. Começou a levar a vida de forma mais tranqüila, sem sobressaltos, dedicando-se aos estudos para as provas finais e ao concurso do vestibular. Não imaginava que voltaria a ter aquela visão no corredor do prédio em que morava. Ele estava ali. O que estava querendo? Quem era? Vicente, o homem esquilo ou um dos outros? Só poderia ser Vicente que estava querendo amedrontá-la como fez quando foi no apartamento dele. Não sabia o que fazer, não podia contar com ninguém e o que era pior, ninguém acreditaria nela. A única solução era voltar a área portuária e descobrir tudo sozinha, mesmo que isso custasse a sua vida. O medo impediu que cumprisse o seu plano, até não conseguir sair do apartamento à noite, porque na escuridão do corredor voltava a ver o espectro luminoso.
A temperatura estava muito alta para a estação, primavera tórrida, sensação térmica de quarenta e sete graus. A bolha de calor se formara devido ao fortalecimento do ar seco na atmosfera, caprichos do El niño. A poluição exigia esforço para respirar. Os olhos lacrimejavam e o nariz ardia. A população da grande cidade já sofria as conseqüências do número excessivo de veículos nas ruas. A mobilidade era o problema e o rodízio dos carros nas avenidas a solução provisória. A calamidade era iminente, faltava água, há meses não chovia. Até para aqueles que viviam nos subterrâneos da cidade a seca estava afetando suas vidas e seu habitat já sofria modificações. A secura já invadia os cantos escondidos pela escuridão. Quando saiam à noite para caçar, o bafo quente aderia suas peles sensíveis e a fumaça no ar, tornava o cenário ideal para aqu...
Comentários
Postar um comentário