O riso excessivo e quase sem som fez com que parecesse parte de uma dublagem grotesca. Ella sentia-se num daqueles cenários em que há vários espelhos que distorcem a imagem. Nada parece ser o que realmente é. A sensação de medo que só espreitava se fez presente. Não havia ali qualquer coisa que pudesse lhe dar segurança a não ser a porta da saída. Vicente levou algum tempo para parar com aquilo que mais parecia um espasmo, depois olhou para Ella e se desculpou. Mudou de assunto e passou a agir com tranquilidade e equilíbrio, mas além daquilo, ele demonstrava certa frieza e distanciamento. Quando o rapaz foi na cozinha pegar um copo de água, Ella puxou distraída o puxador da gaveta de um balcão de madeira, próximo ao sofá da sala, quando abriu, olhou sem pensar, e viu que estava vazia, uma idéia passou a habitar seus pensamentos e fez com que abrisse todas as gavetas e portas do móvel para constatar que estava vazio, antes que Vicente retornasse a sala. Depois entornou o copo de uma só vez, disse que tinha que ir encaminhando-se para porta estendendo a mão e girando a maçaneta impedida pela chave. O rapaz destrancou a fechadura. Ella saiu quase correndo. Antes de ir embora deu uma olhada para dentro do quarto em que havia apenas uma cama. Poderia apostar que Vicente não morava ali.
O que dizer dessas pessoas que sentem que não se encaixam nas ações cotidianas? Não conseguem sentir da mesma forma aquilo que os outros sentem em relação a diversão e visão de mundo... São extraterrestres, não são vistos como tal, mas essa sensação lhes habita. Conseguem de forma mimética fazer parte, muitas vezes...
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