Quando o relógio digital, colocado numa das paredes do bar, zerou, foram abertas as portas da sala e o público que aguardava também fora da casa, começou a entrar. Uma música incidental entoava lamentos e gemidos, num som oscilante, como um mantra. O piso da sala coberto com folhas de árvores parecia áspero como chão de terra, estranhamente, os sapatos deslizavam nele. As paredes estavam cobertas por plantas trepadeiras, algumas pessoas viram lagartixas correrem entre as folhas. A sensação era de que tinham saído e não entrado em algum lugar. No teto da sala estava projetado um céu cinza, as nuvens se movimentando para desabarem em chuva. Alguns ficaram confusos achando que não havia cobertura acima de suas cabeças. A sensação era de expectativa. Parecia que a qualquer momento iria ocorrer algo. O medo foi contagiando a todos e transformando-se em energia, misturada ao som tecno. Muitos passaram a pedir aos garçons, bebidas fortes.
Bonnie dançava e a todo momento olhava para trás. Sentia um arrepio nas costas. Poderia ser o ar gelado que vinha do corredor que levava aos banheiros. Patrícia conhecera um tal de Syd, entraram juntos num dos corredores subterrâneos que levava aos toaletes e não voltaram. O homem grisalho sentado no bar não parava de olhar para ela. Era alto, magro e deveria ter uns cinqüenta anos. Ela impacientava-se com a demora da amiga e a hesitação do homem do bar. Será que aceitaria se o convidasse para dançar? Não iria atrás da amiga naquele corredor sombrio. Não sentia-se a vontade naquele lugar.
O que dizer dessas pessoas que sentem que não se encaixam nas ações cotidianas? Não conseguem sentir da mesma forma aquilo que os outros sentem em relação a diversão e visão de mundo... São extraterrestres, não são vistos como tal, mas essa sensação lhes habita. Conseguem de forma mimética fazer parte, muitas vezes...
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