A
temperatura estava muito alta para a estação, primavera tórrida, sensação
térmica de quarenta e sete graus. A bolha de calor se formara devido ao
fortalecimento do ar seco na atmosfera, caprichos do El niño. A poluição exigia
esforço para respirar. Os olhos lacrimejavam e o nariz ardia. A população da
grande cidade já sofria as conseqüências do número excessivo de veículos nas
ruas. A mobilidade era o problema e o rodízio dos carros nas avenidas a solução
provisória.
A calamidade era iminente, faltava água, há meses não chovia.
Até para aqueles que viviam nos subterrâneos da cidade a seca estava afetando suas vidas e seu habitat já sofria modificações. A secura já invadia os cantos escondidos pela escuridão. Quando saiam à noite para caçar, o bafo quente aderia suas peles sensíveis e a fumaça no ar, tornava o cenário ideal para aqueles que necessitam de discrição, mas com o calor diminuíram o tempo dedicado a busca de alimentos. Percorriam os lugares nos quais estavam concentrados maior número de desprotegidos, velhos mendigos, crianças abandonadas, prostitutas e até viciados. Adotavam a tática da abordagem relâmpago, tinham facilidade para se deslocarem, eram esguias e na claridade ficavam invisíveis, devido a pele translúcida. Nos prédios abandonados, habitados pelos viciados, eram confundidos com fantasmas ou efeito das substâncias usadas por aqueles que se tornavam vítimas. Seus corpos eram carregados depois da primeira mordida na jugular, quando sentiam os dentes penetrando suas partes adormecidas já era tarde. Eram devorados em lugares nos subterrâneos jamais imaginados por qualquer morador dos espaços urbanos acima. Das poucas vezes em que a vítima era alguém com residência fixa, emprego ou pertencente a classe média, as investigações policiais não solucionavam tais desaparecimentos.
A calamidade era iminente, faltava água, há meses não chovia.
Até para aqueles que viviam nos subterrâneos da cidade a seca estava afetando suas vidas e seu habitat já sofria modificações. A secura já invadia os cantos escondidos pela escuridão. Quando saiam à noite para caçar, o bafo quente aderia suas peles sensíveis e a fumaça no ar, tornava o cenário ideal para aqueles que necessitam de discrição, mas com o calor diminuíram o tempo dedicado a busca de alimentos. Percorriam os lugares nos quais estavam concentrados maior número de desprotegidos, velhos mendigos, crianças abandonadas, prostitutas e até viciados. Adotavam a tática da abordagem relâmpago, tinham facilidade para se deslocarem, eram esguias e na claridade ficavam invisíveis, devido a pele translúcida. Nos prédios abandonados, habitados pelos viciados, eram confundidos com fantasmas ou efeito das substâncias usadas por aqueles que se tornavam vítimas. Seus corpos eram carregados depois da primeira mordida na jugular, quando sentiam os dentes penetrando suas partes adormecidas já era tarde. Eram devorados em lugares nos subterrâneos jamais imaginados por qualquer morador dos espaços urbanos acima. Das poucas vezes em que a vítima era alguém com residência fixa, emprego ou pertencente a classe média, as investigações policiais não solucionavam tais desaparecimentos.
Os translúcidos eram seres invisíveis, inexistentes e úteis. Eram responsáveis pelo equilíbrio populacional. Tiravam das ruas uma
parcela da população que ninguém queria. Passaram por um processo
de mutação. Foram um dia os desvalidos das ruas, até que decidiram ocupar as
galerias abaixo do nível das edificações da cidade e matar humanos para comer.
E as outras gerações nasceram com características diferenciadas e aos poucos a
pele foi ficando transparente, os olhos sem coloração e a constituição física
longilínea. Acreditavam que eram um mecanismo de controle divino.
No passado houve relatos de moradores de rua sobre homens transparentes surgidos de lugares de acesso as galerias do subsolo. Ninguém deu crédito a essas histórias. Foram publicadas em veículos sensacionalistas como texto folclórico.
Em tempos de escassez e aumento populacional, as medidas emergenciais eram necessárias e os mecanismos eram criados pela natureza. Se os translúcidos não sobreviverem a crescente secura planetária, se não se modificarem mais uma vez, certamente haverá um novo movimento de acomodação da vida.
No passado houve relatos de moradores de rua sobre homens transparentes surgidos de lugares de acesso as galerias do subsolo. Ninguém deu crédito a essas histórias. Foram publicadas em veículos sensacionalistas como texto folclórico.
Em tempos de escassez e aumento populacional, as medidas emergenciais eram necessárias e os mecanismos eram criados pela natureza. Se os translúcidos não sobreviverem a crescente secura planetária, se não se modificarem mais uma vez, certamente haverá um novo movimento de acomodação da vida.
gostei muito!
ResponderExcluirObrigada.
ResponderExcluirQue massa...beleza de trabalho!!!
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