Pablo conseguiu aprontar-se em poucos minutos. Chegou na danceteria antes de todos. Organizou os funcionários e deu as últimas instruções. Na hora em que foram abertas as portas, ele estava vestido à rigor. Depois colocou algo mais esportivo e sentou-se no bar como se fosse um dos freqüentadores, não conseguia tirar os olhos da morena de cabelos longos, que na pista de dança, se movia ao ritmo da música oriental, parecendo uma cobra hipnotizadora.
Perséfone saiu de seu apartamento, no centro da cidade, antes das dez horas. Passou em duas casas noturnas por puro hábito. Observou o movimento ainda fraco. Antes das onze horas deveria estar no Pablo’s. Não concordou com o nome quando seu pai lhe revelou. Disse que parecia coisa de aculturado. O argumento dele foi relevante: - Neste pais tudo que está grafado em inglês recebe maior credibilidade. Ela ficou pensando se ele não se incomodava em ter descaracterizado o próprio nome, mas depois pensou que não podiam se dar a esses luxos. Eram apenas sobreviventes. A gerência da casa noturna ficara sob a responsabilidade dela. Passara meses criando os detalhes da decoração do lugar.
Não sabia mais se era vítima da situação que se estabelecera em sua vida desde muito cedo. Tudo começou com a primeira manifestação de maturação de seu corpo. Passou a entrar em contato e absorver uma nova realidade. Os seus sentidos ficaram mais aguçados e o seu contato com a terra mais necessário. Entrou em sintonia com os elementos da natureza e passou a entender que ela se apresentava através de ciclos que resultavam em vida e morte. Ao mesmo tempo em que passou a entender um pouco dos mistérios da existência, sentiu em seu próprio organismo uma debilidade crescente, as forças se esvaiam e nenhum alimento as recuperava. Depois de vários exames médicos e nenhum diagnóstico, seu pai lhe falou em sacrifícios humanos e do seu legado materno. Sua mãe precisava de doses diárias de sangue. Ela não agüentou essa situação que achava ser uma maldição e pediu que a deixasse morrer quando começaram a ser perseguidos na pequena cidade do interior da Argentina da qual fugiram. Ela não suportou a viagem, o frio do inverno e a inanição.
O que dizer dessas pessoas que sentem que não se encaixam nas ações cotidianas? Não conseguem sentir da mesma forma aquilo que os outros sentem em relação a diversão e visão de mundo... São extraterrestres, não são vistos como tal, mas essa sensação lhes habita. Conseguem de forma mimética fazer parte, muitas vezes...
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