Assistir as aulas no horário da manhã era como estar num território alfa, entre um sobressalto e outro despertava do cochilo e fazia as anotações de biologia. No final das aulas, já acordada, ia animada e com fome para casa. Três vezes por semana estudava com Victor no final da tarde, nos outros dias se virava sozinha. Naquela terça-feira tinham combinado estudarem matemática que era mais um enigma na sua vida e para o amigo, algo elementar. Ficaram revisando a matéria até mais tarde, porque estavam no período das provas de final de ano e tudo ficava mais difícil. Quando saiu do apartamento de Victor não apertou o interruptor da luz e ficou envolta na escuridão do corredor, ficou com medo de ter que caminhar alguns passos na direção contrária para apertá-lo, pensou em sair correndo e subir as escadas até o seu andar, o elevador era uma opção mais assustadora ainda. Olhava para as paredes buscando algum apoio e não conseguia enxergar, quando esticava o braço para tocá-la, tinha a impressão de que ia se distanciando, parecia elástica. Ficou sem referência e em pânico, correu para as escadas, olhou para trás antes de subir, porque escutou um som que parecia um chiado se aproximando. Viu algo fosforescente que saia da parede e planava pelo breu do corredor indo na sua direção. Congelou. No mesmo instante acenderam a luz do andar de cima e Ella conseguiu voltar a correr e só parou ao chegar em casa.
O que dizer dessas pessoas que sentem que não se encaixam nas ações cotidianas? Não conseguem sentir da mesma forma aquilo que os outros sentem em relação a diversão e visão de mundo... São extraterrestres, não são vistos como tal, mas essa sensação lhes habita. Conseguem de forma mimética fazer parte, muitas vezes...
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